sexta-feira, 24 de setembro de 2010

DIMENSÕES FUNDAMENTAIS DA FÉ SALVADORA

Eles responderam: crê no Senhor Jesus, e tu e tua casa sereis salvos” (Atos 16.31)
Nesse versículo, Paulo e Silas, de maneira absolutamente enfática, afirmam, inspirados pelo Espírito Santo, que o destino eterno de almas imortais feitas à imagem e à semelhança do Deus Criador de todas as coisas, está diretamente vinculado à pessoa e à obra gloriosa que o Senhor Jesus Cristo realizou na cruz do calvário.
Verifiquemos, de pronto, que Paulo e Silas não dizem: creia numa estrutura político-religiosa; creia num sistema filosófico; creia em obras meritórias e numa conduta moral supostamente exemplar. Nada disso interessa a Paulo e a Silas. Antes, é em Jesus Cristo que eles recomendam o depósito de toda confiança para a salvação da alma e para o desfrute da vida eterna.

Vê-se aqui, claramente, que a ênfase do imperativo de Paulo e Silas está posta na fé em Cristo para a salvação da alma; e não na fé no Filho de Deus para o alcance de bênçãos materiais que circunstancialmente, pela bondade e querer soberano de Deus, podemos vir a desfrutar. Paulo e Silas não dizem: Creia em Jesus Cristo para ser feliz emocionalmente; creia em Jesus Cristo para ser curado das enfermidades físicas; creia em Jesus Cristo para ser próspero financeiramente; mas, sim, creia em Jesus Cristo para ser salvo, ter os seus pecados perdoados e ser herdeiro do bendito e glorioso dom da vida eterna.
Aprendemos, aqui, a seguinte doutrina da graça: a fé salvadora leva-nos, pela operação sobrenatural e eficaz da graça de Deus, a apropriar-nos dos benefícios eternos que o sacrifício realizado por Jesus Cristo na cruz do calvário nos proporciona. Pergunta chave: o que vem a ser efetivamente a fé salvadora a ser depositada na pessoa de Jesus Cristo? Antes de tentarmos responder qual a natureza básica da fé salvadora, reflitamos sobre aquilo que ela certamente não é.
Ela seguramente não é a crença, quase universalmente cultivada entre os homens, de que Jesus Cristo existe e é o Filho de Deus. Tal convicção, portadora de caráter meramente cultural e convencional, está longe de se constituir na fé salvadora, da qual as Escrituras Sagradas nos falam abundantemente. Quando muito, ela é um assentimento meramente intelectual, que fica no nível puramente racional das pessoas, não desce ao coração nem resulta, ao fim e ao cabo, em mudança de vida. Ela certamente não é a crença, de igual maneira, disseminada no imaginário coletivo dos homens, segundo a qual Jesus Cristo existe, é Filho de Deus e tem poder para intervir na vida das pessoas e trazer, por sua bondade e graça, solução para muitos dos problemas pelos quais os homens passam em seu viver cotidiano.
Esse tipo de fé, não fica difícil de se perceber, tem um alcance meramente terreno e, em última análise, direciona-se apenas para assuntos estritamente relacionados à vida material e ao tempo presente. É um tipo de fé que nos impulsiona a buscar bênçãos tais como: saúde, proteção, progresso financeiro, entre outras aspirações que ditam os interesses mais imediatos dos seres humanos.
Tal expressão de fé também está distante da verdadeira fé salvadora sobre a qual discorrem as Escrituras Sagradas. Ela também não é a crença de que Jesus Cristo é o Salvador de todos os homens; e de que pelo fato de ele ter morrido na cruz do calvário, todos os homens, independentemente do modo como vivem neste mundo, serão salvos no final da história. A salvação é uma experiência rigorosamente individual, de modo que quem dela não se apropriar pela fé dela ficará privado por toda a eternidade.
Examinados, pois, alguns conceitos do que não se constitui numa fé salvadora genuína, apresentemos, à luz da Palavra de Deus, a verdadeira e salvadora fé em Jesus Cristo. Como bem pontua o teólogo presbiteriano Hermisten Maia Pereira da Costa, em seu livro Eu Creio no Pai, no Filho e Espírito, a fé salvadora “origina-se no próprio Deus”. É Deus quem no-la concede, é dom da graça, não é resultado da força do homem, das luzes do seu intelecto, do suposto exercício da sua vontade. Ela se manifesta no exato instante em que, convencidos pelo Espírito Santo da nossa congênita pecaminosidade, tiramos os olhos de nós mesmos e reconhecemos que não há nada em nós que nos faça merecedores dos favores salvíficos de Deus.
É fato que todos os homens, em maior ou menor grau, carregam consigo a esperança de serem portadores de algum vestígio de justiça própria. Acreditam, quase todos, ser possível se conquistar a salvação e a vida eterna pelo concurso meritório dos seus esforços e obras. A fé salvadora, em direção contrária, faz-nos ver exatamente como somos: pecadores perdidos, carentes da graça de Deus, inteiramente dependentes do favor do Senhor.
Ainda de acordo com Hermisten Maia Pereira da Costa, a fé salvadora “é direcionada para Deus e para sua Palavra”, isto é, sem ampara na Revelação que Deus fez de Si mesmo nas Escrituras Sagradas. A fé salvadora significa depositarmos toda a nossa confiança na pessoa bendita do Senhor Jesus Cristo e na plena suficiência do seu sacrifício na cruz do calvário; na eficácia do sangue do Cordeiro de Deus para resgatar nossas almas das mãos do diabo, do pecado e das trevas, e conduzi-las ao “reino do Filho do seu amor” (Cl 1.13b). Argumenta ainda o aludido teólogo que a fé salvadora se “fundamenta no poder e fidelidade de Deus”.
Nesse sentido, a fé salvadora leva-nos ao descanso de sabermos que aquilo que não poderíamos fazer por nós, Deus fez em nosso lugar. Portanto, não devemos mais viver em temor escravizatório, mas em confiança, a qual, impregnada de alegria e gratidão, se transforma numa vida operosa e frutífera, sempre pronta a se exercitar no afã indesviável de promover o reino de Deus e a implantação urgente dos seus santos valores no coração dos homens. A fé que descansa não é uma fé indolente, mas, sim, uma fé que opera pelo amor, conforme doutrina o apóstolo Paulo em sua Epístola aos Gálatas 5.8.
Por fim, arremata Hermisten Maia Pereira da Costa que a fé salvadora “é resultado de nossa Eleição Eterna”. Verifique-se, aqui, que a fé salvadora não é a causa da eleição, mas, sim, o seu resultado. Como bem sinaliza o notável reformador e exegeta João Comentar a Epístola aos Gálatas, “o fundamento de nossa vocação é a eleição divina gratuita pela qual fomos ordenados para a vida antes que fôssemos nascidos. Desse fato depende nossa vocação, nossa fé, a concretização de nossa salvação”.
Diante da exposição sumária desses pontos conceituais relacionados à natureza da fé salvadora, é importante nos fazermos os seguintes questionamentos: Que tipo de fé habita em nossos corações? Ainda continuamos a acreditar que nossas obras são suficientes para com elas alcançarmos o favor de Deus e a vida eterna? Já cremos mesmo de todo o nosso coração na pessoa e na obra expiatória realizada por Jesus Cristo na cruz do calvário? Já nos arrependemos realmente dos nossos pecados, encarando-os não como meros e superficiais deslizes de comportamento, mas sim como graves, voluntárias e conscientes quebras da Lei do Senhor? Já evidenciamos em nossas vidas, ainda que imperfeitamente, os sinais que, inevitavelmente, devem acompanhar alguém que realmente nasceu de novo? Temos crescido em santidade? Temos zelo pela Palavra de Deus? Amor pela igreja e pela urgente tarefa da evangelização?
A aferição da genuinidade da fé que devemos possuir é questão de vida ou morte, imperativo da graça da mais alta seriedade. Ouçamos o Espírito Santo pela instrumentalidade do apóstolo Paulo e do seu inspirado escrito: “Examinai-vos a vós mesmos, para ver se estais na fé. Provai a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? A não ser que já estejais reprovados” (2Co 13.5). SOLI DEO GLORIA NUNC ET SEMPER
PB. JOSÉ MÁRIO DA SILVA

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