Uma casa de sapê é feita com varas de árvores, palhas de algum tipo de palmeira ou carnaúba, talvez algumas telhas e barro com água. Elas são facilmente e rapidamente construídas, sem a necessidade de alicerces, projetos mais elaborados ou de um mínimo servente de pedreiro, quanto mais um engenheiro. Sendo assim, “qualquer” pessoa com um pouco mais de força física e um pouco de ajuda dos vizinhos, pode construir uma casa de sapê. Normalmente são casas aparentemente confiáveis, contudo, basta qualquer chuva mais forte ou um mínimo tremor para que aconteça um desastre.
Assim é a história de algumas igrejas. Por conta do pragmatismo, muitos têm assumido a agenda secular (mundana) e alicerçado as suas igrejas sobre os números e os métodos. O material que normalmente usam é frágil, mas mortal. Via de regra, é um material humano, baseado na perspectiva humana e não na revelação divina. Como por exemplo, estatísticas sociológicas ou antropológicas do perfil da comunidade onde a igreja está inserida ou miragem pós-moderna. Não que sejamos proibidos, enquanto igreja do Senhor Jesus Cristo de nos planejarmos, inclusive conhecendo o ambiente onde a igreja será fundada, ou ainda em buscar decifrar o código e as normas que regem uma determinada comunidade que é culturalmente diferente, mas isso nunca poderia nortear definitivamente os intentos da indiscriminada pregação do Evangelho a toda criatura.
Chegará um dia, e a história está “aí” para nos ensinar a lição, que as coisas encobertas desses movimentos pós-modernos se descobrirão e a casa, que é de sapê, não tendo alicerce, ruirá. É isso, quando menos se espera, uma casa que parecia tão segura cai, e são poucos os que sobrevivem ou passam sem arranhões. Tudo caminhava muito bem, sem maiores problemas, visto que os números são “acéfalos”, e com resultados dentro do esperado ou mais do que o esperado; não se via o buraco que se cavava e a pedra que se rolava para o seu próprio fim (Provérbios 26: 27). Faltava aos seus líderes conhecimento bíblico-histórico-teológico; como engenharia, arquitetura e experiência aos construtores de casas de sapê. Contudo, a Igreja que confia mais em si mesma ou em homens com seus números e métodos mirabolantes do que no que Deus preceitua, perde o foco e o propósito para o qual foi fundada, acarretando uma série de problemas, dentre eles, o mais importante, é o da falta de identidade histórico-teológica.
Deus diz que sua igreja deveria ser alicerçada em suas Palavras. Até mesmo porque os que amam o seu Filho, o cabeça da igreja, vivem de conformidade com seus mandamentos (João 14: 21). Ele mesmo diz que o fundamento da Igreja são os apóstolos e profetas (Efésios 2: 20; 1Pedro 2: 6-7), sendo Ele mesmo, o Senhor Jesus, a pedra angular. As colunas devem ser extensões dos fundamentos, pois a igreja é coluna e baluarte da verdade divina e o que cresce é o testemunho a respeito do verdadeiro testemunho, e não a verdade ou a revelação dela (1Timóteo 3: 15). O principal material dessa construção, portanto, é a verdade. Jesus disse que Ele é a verdade e é a pedra norteadora do edifício (João 14: 6 e Efésios 2: 20). Enquanto a casa de sapê não tem um real e verdadeiro idealizador e construtor, na igreja cristã, o idealizador e construtor é Jesus. Ele é a pedra direcionadora e o “material” (a verdade) com que todos os membros bem ajustados “devem trabalhar”. O Senhor Jesus Cristo é o que começa a obra da fé em nós e o que termina a obra de fé em nós (Hebreus 12: 1-3); e como Ele bem disse: “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanecer em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (João 15: 5). O problema nevrálgico de quem “inventa” mais coisas, que vai além daquelas práticas ensinadas por Jesus para a Igreja, da qual é a Pedra angular (pedra principal e que dá firmeza e direção ao fundamento e conseqüentemente ao edifício), é o orgulho. Eles não entendem, nem se submetem humildemente ao que está revelado, dizendo a todo instante, por meio de suas práticas, para a Cabeça do corpo (Cristo) que podem criar coisas melhores do que aquelas que Ela determina. Esquecem de crer verdadeiramente no Espírito Santo, que foi enviado para a Igreja a fim de guiá-la a toda verdade (Jesus) e que convenceria os homens pecadores do pecado, da justiça e do juízo (João 15: 26; 16: 8, 13). Ele é quem converte e não a relevância, tendo em vista o que o próprio Senhor fez através das parábolas (Mateus 13: 13-15; João 12: 35-43).
Temos que amar fazer a obra de Deus, fazer missões, evangelizar e discipular (e não é uma coisa diferente e desassociada da evangelização), todavia não pode ser comprometendo a Palavra de Deus (que infecundidade, não?), que deve alicerçar, alinhar, revestir, dar o acabamento a tudo o que fazemos; devemos parar com essa vontade apresentada pela primeira vez no Eden de querer fazer melhor do que Deus e de ser o próprio Deus. Se a obra for feita assim, dentro dessas bases, poderemos acreditá-la a Deus (obra DE Deus).
Um bom exemplo é quando Jesus escreveu às sete igrejas da Ásia Menor (apocalipse): observamos (e aprendemos) que nem sempre riquezas e patrimônio, número de pessoas nos cultos e as várias atividades semanais e nos finais de semana na igreja são garantia de aprovação por parte de Jesus. Deveríamos estar mais atentos à motivação, conteúdo, forma e finalidade daquilo que fazemos para Deus na igreja ou fora dela. É essência para a Igreja e para nós o apego fervoroso à sã doutrina, à verdadeira e transcultural experiência com Deus, à disciplina dos faltosos, à administração correta dos sacramentos e ao compromisso constante, intenso, a tempo e fora de tempo, com a sã proclamação do Evangelho aos perdidos, quer sejam eleitos ou não. O nosso desafio como Igreja é sempre nos voltarmos para a Palavra, a fim de sabermos se estamos sendo achados fiéis ao iniciador, direcionador e finalizador desse edifício, pois se for uma casa de sapê, menos dia ou mais dia, ela cairá por causa de sua própria fragilidade (superficialidade).
Rev. Renan de Oliveira
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