O termo “Reforma” é bastante conhecido, mas pouco se sabe sobre o seu significado. Para alguns, a Reforma protestante foi apenas um movimento de mudança social, surgido do interesse de uma nascente burguesia que queria chegar ao poder. Este é o velho e já falido modo de reconstruir a história a partir do pano de fundo marxista. Mas, e já que acreditamos na soberania de Deus, o Deus que controla a história linear e dramática da humanidade, precisamos “olhar” para a Reforma de maneira bíblico-histórica.
Assim, em primeiro lugar, a Reforma foi e é um movimento que se destaca por ser essencial e conclusivamente sobrenatural, que aconteceu na história (tempo e espaço). Seria importante dizer, abrindo um parêntese, que não existe qualquer coisa que esteja sendo executada na história que não seja sobrenatural. Ver a história da humanidade como uma simples e estéril implicação de causas naturais (causa e efeito) é a mais pura e óbvia amostra da incredulidade reinante nos nossos dias. Não somos fruto do acaso, não estamos subordinados a fatalidades, cremos num Deus que provê, soberanamente, todas as coisas! Não há qualquer dúvida ou sombra de variação em Deus. Deus não muda, mesmo que sua forma de administração providencial possa mudar e ser executada de formas diferentes, naquilo que Ele mesmo não determinou como ordinárias desde o princípio. Portanto, a Reforma Protestante foi um movimento que surgiu de um avivamento por meio das coisas ordinariamente predeterminadas por Deus na história. Jesus nos prometeu que não nos deixaria sozinhos enquanto Igreja encabeçada por Ele (Mt 28: 20). O Espírito Santo estaria também conosco a fim de nos guiar a toda verdade (Jo 14: 13-18). Portanto, a Reforma Protestante foi, acima de tudo, um evento sobrenatural na história da Igreja Cristã, pois a Reforma da Igreja foi produzida por obra da Trindade Santíssima. A Igreja nunca poderia ser deixada pelo Espírito! Ele tem a obra de nos guiar a TODA VERDADE. Contrariando o que muitos fanáticos ensinam sobre o Espírito Santo, Ele, ordinariamente, não está divorciado da verdade, porém está eternamente unido a ela (Ef 1: 13-14). Calvino comenta quanto a este assunto: “da mesma forma, ‘a Palavra’ não pode ser separada ‘do Espírito’, como imaginam os fanáticos, que, desprezando a palavra, ufanam-se do nome do Espírito, e incrementam coisas, como confidências, em suas próprias imaginações.” (Calvino, Comentário de Isaías. p. 271). Mas que verdade é essa? Essa é a verdade relatada em Jo 14: 6, quando Jesus diz que ele mesmo é a verdade. Ainda no mesmo livro Jesus pede ao Pai que santifique os discípulos na verdade, verdade que é a Palavra do Pai (Jo 17: 17). E, por fim, o livro começa dizendo que o verbo de Deus é Jesus Cristo, seu unigênito filho (Jo 1: 1). Logo, o que aconteceu na Reforma foi uma obra pessoal e milagrosa (sobrenatural) de Deus na história, isso porque houve um evidente retorno sobrenatural à Santa Palavra do Senhor, que revela o Filho. Foi uma obra sobrenaturalmente positiva e regeneradora.
O lema da reforma é o seguinte: Igreja Reformada, sempre se reformando. Foi uma reforma porque o intuito dos reformadores era propor um retorno da Igreja (ICAR – Igreja Católica Apostólica Romana) à sua verdadeira regra de fé e prática. A fé e a prática religiosa da igreja medieval eram em muito distantes do que a Palavra ensina. A igreja medieval tinha tal prática porque em primeiro lugar já não cria como a Escritura ensina. Assim, em segundo lugar, a Reforma Protestante foi e é um movimento hermenêutico, pois conduziu à Palavra e foi vivido pela Palavra, numa busca constante por entendê-la e urgentemente aplicá-la na vida cotidiana. E isso se deu por meio da iluminação do Espírito Santo, que queria trazer um verdadeiro avivamento sobre a Igreja. Avivamento que não acontecia há muitos anos, mas que, supostamente, foi produzido, de forma psicológica por movimentos espiritualístico-moralistas na Idade Média. Nessa história da espiritualidade comum e naturalista, ou seja, sem Escritura e saudável interpretação da mesma, personagens como Santa Teresa, São João da Cruz e São Tomás Villanueva, não podem ser ignorados.
A mudança que começou a acontecer, aconteceu por causa da intervenção ordinária do Espírito Santo na Igreja de Jesus Cristo. A Igreja de Cristo estava distante de seu centro, ou seja, a Igreja é essencialmente Cristocêntrica, e se Cristo não é pregado não pode haver genuína fé (Rm 10: 17). Sem Cristo, a igreja não é cristã, é antropocêntrica; e se a verdade (Cristo) não é pregada, o Espírito Santo não está guiando o povo, mas a vontade desse povo é que o guia (Jo 14: 24-26; 15: 26-27). Mesmo que seja a mais bem intencionada vontade, ainda assim será pecaminosa. Assim, em terceiro lugar, a reforma foi e é um movimento essencialmente Cristocêntrico.
Invariavelmente, portanto, para que houvesse uma reforma (ou avivamento), a Igreja precisaria ser reconduzida a Palavra e foi isso que o Espírito Santo fez. Por esse motivo, associo, intransferivelmente, a Palavra ao verdadeiro e único avivamento. Por isso, ligo indiscriminadamente a Reforma Protestante ao avivamento, pois houve um intrínseco e inerente compromisso desse movimento sobrenatural com a Palavra e por isso com o Espírito Santo, constituindo-se, assim, num verdadeiro e coletivo avivamento.
Se quisermos nós, Igreja Presbiteriana de Campina Grande, de fato, um verdadeiro avivamento, que produza verdadeiros frutos de conversões, arrependimento, transformação de vidas; que nos traga a verdadeira forma de pensar, meditar, refletir, compreender; que nos traga verdadeiros sentimentos, impressões, paixões; que nos traga verdadeira santidade, compromisso como nunca se viu com Deus e com o próximo, desprendimento das coisas materiais (coisas) e das pessoas, pureza na mente e no viver; enfim, que nos traga verdadeira vivência com Deus, precisamos de uma intervenção extraordinária de Deus, por meio de sua Palavra, segundo o seu Espírito, que conduz a uma verdadeira compreensão da Palavra – que é Cristo. Ou seja, Deus usará extraordinariamente os meios ordinários. O VERDADEIRO AVIVAMENTO não é produzido por nossas vontades, por nossas orações, ou pela quantidade de coisas que fazemos para produzi-lo, mas é um mover de Deus na história conduzindo o seu povo ao arrependimento genuíno por meio de seu Espírito, na Palavra, que é Cristo. Ore por isso, mas saiba, quem faz é Deus! CREDO UT INTELLIGAM!
Rev. Renan de Oliveira
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